PARECER Provas de Aferição – 2018


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Provas de Aferição – 2018

Disciplinas/áreas de Expressão Artística 1º CEB, Educação Visual e Educação Tecnológica

2º CEB e Educação Visual 3º CEB

 

 

  1. 1. Preâmbulo

A APEVT defende e deseja que as provas de aferição contribuam para fornecer padrões de referência para a avaliação dos alunos a nível nacional, assim como dados sobre desenvolvimento do currículo relativos às variáveis locais, regionais, sociais, etc.

Entender a importância da avaliação aferida como informação útil para as escolas, os professores e os encarregados de educação, sem pretender tirar dela mais que pode dar, implica a existência de provas de aferição com qualidade científica e pedagógica, promotoras da avaliação externa ao serviço de um ensino impulsionador de aprendizagens transdisciplinares e integradoras de saberes, que respeitem a Carta de solicitação do SEE ao IAVE, particularmente na conceção de provas que se constituem como guiões para avaliação de natureza performativa e  permitam avaliar como o saber curricular é mobilizado.

Em conformidade, a APEVT quer contribuir com a sua análise sobre as provas para  a afirmação da avaliação externa no sistema educativo. Pretende que as mesmas sejam uma forma de acompanhar o desenvolvimento do currículo nas diferentes áreas que potenciem uma intervenção pedagógica sobre o desenvolvimento dos alunos e a evolução das suas aprendizagens no tempo.

Este parecer não se sustenta em métodos e técnicas próprias da investigação em ciências sociais, trata-se  de um trabalho empírico baseado na auscultação dos professores da área artística e tecnológica que, quer pela observação direta, através do exercício das funções que lhes foram imputadas para acompanhamento da realização das provas, quer pela análise documental de todas as provas.

   2. Aspetos de conteúdo

2.1 Provas de aferição práticas do 1º ciclo, PA-EA27-2018

2.1.1 Evidências reveladas

– Os objetivos e conteúdos selecionados revelam adequação às orientações curriculares em vigor;

– A estrutura das provas revelam adequação ao nível de desenvolvimento cognitivo dos alunos do 2º ano;

– A formulação das instruções globais das provas manifestam clareza e promovem o interesse e motivação para a realização dos itens/tarefas;

– O método induzido revela adequação, quer através da narrativa de descoberta formulada pelas instruções, quer pela semelhança às situações em sala de aula;

– Os materiais disponibilizados, de entre uma oferta diversificada e a liberdade de os alunos escolherem os seus próprios materiais revelam uma opção correta;

– O tempo para a realização das provas foi insuficiente;

– Os critérios de classificação – descritores de desempenho não observam: a relação entre a intenção do sujeito que se exprime e o produto de expressão, (ensaio, sequência de ação e produto); o registo gráfico do aluno; o processo de trabalho e parâmetros atitudinais.

2.1.2 Apreciação global

Podemos afirmar que  as provas se revelaram adequadas ao desenvolvimento dos alunos deste ciclo e ano de estudo, nos objetivos, na estrutura, na formulação das instruções com uma linguagem apelativa à imaginação e criatividade. O  método, igualmente adequado e interessante, num ambiente idêntico à situação da sala de aula, com mesas de apoio, alternância entre trabalho individual e trabalho grupal, promovendo um momento interrelacional e atraente para os alunos poderem criar, construir, experimentar, etc. Lamentamos apenas a proposta conservadora da disposição das mesas de trabalho. Hoje, em muitas escolas do 1º ciclo, já não se utiliza essa disposição de mesas.

Quanto aos critérios de classificação,  os descritores omitem a expressividade na observação da relação entre a intenção do sujeito que se exprime e o produto de expressão. Não foi explicito a observação do registo gráfico do aluno da primeira ideia capturante da forma imaginada, (que permite ao aluno desenvolver a ideia a partir de um sentimento original sem nunca perder  o contato com ele e, ao professor, compreender a direção e o sentido das explorações que o aluno faz no processo de desenvolvimento do trabalho).

Saliente-se ainda, que os descritores de desempenho, na sua grande maioria, foram elaborados em função do produto final e não na observação direta do processo de trabalho, tão importante nesta área educativa. “Faz uso de três materiais diferentes”,  independentemente da sua capacidade de escolha e adequação à situação ou  A construção evidencia domínio das técnicas utilizadas (colagem e pintura)” independentemente da sua capacidade de discriminar e adequar as técnicas para a construção de uma estrutura resistente. Trata-se de descritores possíveis de verificar/classificar após a realização da prova. Também merece destaque a ausência de parâmetros atitudinais com descritores de desempenho sobre o trabalho de grupo – interpessoais e mesmo sobre o trabalho individual – intrapessoal.

O tempo para a realização das provas revelou-se insuficiente, no entanto os professores aplicadores seguiram as instruções gerais de realização da prova que determinava que, “a prova é dada por terminada após todos os alunos terem sido observados”  e “depois de todos os alunos explicarem o funcionamento do seu robô”.

2.2 Provas de aferição práticas do 2º ciclo, PA-EA53-2018

2.2.1 Evidências das provas

– Os objetivos e conteúdos selecionados revelam adequação às orientações curriculares em vigor;

– A estrutura das provas revela adequação ao nível de desenvolvimento cognitivo dos alunos do 5º ano, apesar de ser possível e desejável uma estrutura mais simples;

– A formulação das instruções globais das provas revelaram-se complexas, o número de itens e o formato selecionado induzem os alunos para a realização de exercícios fragmentados;

–  O desajustamento do  grau de dificuldade entre provas para os alunos verificou-se  nos referenciais diferentes para a mesma  tarefa 2, copo plástico, caixa de ovos e caixa cereais;

– O método induzido de orientação prescritiva inibidora de uma disposição impulsionadora da criatividade dos alunos.

– Dos materiais disponibilizados salienta-se a escolha de um copo de plástico numa das provas como uma opção inapropriada do ponto de vista ambiental e pedagógico.

– O tempo para a realização da prova é insuficiente;

– Os critérios de classificação – descritores de desempenho elaborados em função do produto final, ausência de valoração do processo e da observação entre a intenção do sujeito que se exprime e o produto de expressão. Ausência de parâmetros atitudinais.

2.2.2 Apreciação global

Podemos afirmar que as provas se revelaram adequadas ao desenvolvimento dos alunos deste ciclo e ano de estudo, nos objetivos e na estrutura, apesar de ser possível e desejável uma estrutura mais simples.

A formulação das instruções revelaram-se demasiado complexas, em parte pela opção da formulação das instruções assentes numa conceção de orientação prescritiva e condutora,  inibidora de uma disposição impulsionadora da criatividade dos alunos[1].

A tarefa 1, guia o aluno passo a passo induzindo-o num exercício como algo fragmentado, (com doze orientações/condicionantes), sendo objetivo expresso do enunciado a realização de um único produto – uma composição visual. De facto, o enunciado apresenta-se escrito de uma forma que faz com que os alunos não consigam olhar para o trabalho como um processo criativo, mas sim, como uma execução de várias tarefas separadas. A ordem dos itens obriga a uma execução sequencial na base do raciocino lógico dos seus autores.

Relativamente à tarefa 2 da mesma prova (5º ano), supostamente no âmbito da educação tecnológica, nota-se um desequilíbrio de prova para prova. A tarefa é a mesma só modifica o objeto, contudo, as características de cada objeto oferecem possibilidades muito diferenciadas e com graus de complexidade muito distintos para os alunos, (na dificuldade de corte, de dobragem e da própria pintura). A escolha de um copo de plástico numa das provas é uma opção infeliz do ponto de vista ambiental e pedagógico, sendo o seu potencial de processamento de um previsível insucesso – dobrar, riscar, pintar, colar num copo de plástico com superfície curva e impermeável.

O desajustamento do  grau de dificuldade entre provas para os alunos verificou-se  nos referenciais diferentes para a mesma  tarefa 2, copo plástico, caixa de ovos e caixa cereais, ou na construção geométrica tarefa 1, traçar uma circunferência sendo dada a medida do raio ou do diâmetro, em vez de traçar um segmento de reta e dividi-lo em duas partes iguais, assim como muito mais simples integrar a circunferência na composição visual do que dividir o segmento de reta.

Sobre o tempo previsto para o cumprimento das tarefas revelou-se insuficiente, a sua gestão inteiramente por conta dos alunos, deixá-los-ia em dificuldades. O ambiente de sala de aula, deveria ter sido semelhante ao 1° ciclo, isto é, dar a oportunidade aos alunos de  escolherem os materiais, de se poderem movimentar na sala e disponibilizando, simultaneamente, o espaço da sua própria mesa de trabalho.

Salienta-se ainda, que os descritores de desempenho na sua maioria estão elaborados em função do produto final, questionando-se a pertinência da observação direta dos classificadores que, supostamente, valorizam o processo e a interação entre a intenção do sujeito que se exprime e o produto de expressão. Destaca-se ainda, que os critérios de classificação atendem a descritores quantitativas, ( inclui n elementos, n materiais, n técnicas, etc.). Também merece destaque a ausência de parâmetros atitudinais com descritores de desempenho sobre o trabalho individual – intrapessoal e mesmo sobre cooperação no trabalho de turma – interpessoais.

2.3 Provas de aferição práticas do 3º ciclo, PA-EA83-2018

2.3.1 Evidências das provas

– Os objetivos e conteúdos selecionados revelam adequação às orientações curriculares em vigor;

– A estrutura das provas revela adequação ao nível de desenvolvimento cognitivo dos alunos do 8º ano, apesar de ser possível uma estrutura menos complexa;

– A formulação das instruções das provas, a ordem e o número de itens não contribuem para a clareza dos enunciados;

– O tempo para a realização das provas é claramente insuficiente;

– Os critérios de classificação – descritores de desempenho elaborados em função do produto final, ausência de valoração do processo e da observação entre a intenção do sujeito que se exprime e o produto de expressão. Ausência de parâmetros atitudinais.

2.3.2 Apreciação global

Podemos afirmar que as provas se revelaram adequadas ao desenvolvimento cognitivo dos alunos deste ciclo e ano de estudo, nos seus objetivos e atendendo ao ciclo de estudo, na sua estrutura. Porém, a formulação das suas instruções, a ordem e o número de itens dificultam uma visão holística dos enunciados.

Na primeira tarefa pretende-se conjugar a capacidade de interpretação de instruções sobre exercícios constantes dos traçados geométricos com a criação de uma composição visual, uma opção aceitável, mas que torna pouco clara a adequação da expressão gráfico-visual dos alunos com uma condução sequencial dos itens, exemplificando: após a integração na temática, “Como vês, estas composições integram elementos …”, o  enunciado coloca claramente o aluno numa situação “ Vais criar uma composição visual … conjugada com diversos elementos geométricos”, seguido de instruções “Deve resultar uma composição equilibrada, com movimento, … (peso visual das formas, dimensão, posição …)”, o aluno é desafiado a planear ou seja, a registar as suas primeiras ideias, todavia, seguem-se mais onze orientações de condução de trabalho sequencial.   A segunda tarefa segue a mesma formulação de instruções. Depois integrar o aluno na temática, enuncia a situação, “Imagina que, numa certa aldeia, vila ou cidade, se vai realizar um evento…”, mas posteriormente são dadas as instruções/condições, “O teu cartaz deve conjugar … elementos representados que deves reproduzir” , o que se afigura conflituante. Ora, se a elaboração de um cartaz  já se afigura uma tarefa de grande complexidade, que  requer inúmeras combinações dos elementos gráficos-visuais, (figura e fundo; imagem e textos principais e secundários; cor; tipo e corpo de letra, etc.) a sua realização dispensava tantas condicionantes. Acresce que os critérios de classificação denotam incongruencia entre as exigências formuladas nos enunciados e dos descritores baseados em requisitos quantitativas, (inclui n elementos,  n palavras, etc.). Por último, o tempo para a realização destas provas é manifestamente insuficiente.

 

  1. Apreciação de aspetos sobre instruções de realização da prova

Imagens das provas

Destaca-se a importância da qualidade das imagens das provas. Sendo originalmente de muito boa qualidade, muitas escolas reproduziram as provas a preto e branco e com má impressão. Este facto, que escapa às instruções imanadas, criou dificuldades aos alunos na  visualização/interpretação das imagens.

Aspetos organizativos/logísticos

Deve atender-se a prazos dilatados na solicitação dos materiais que as escolas devem disponibilizar e a uma maior moderação nos pedidos. Tomando como exemplo o copo de plástico, se fizermos as contas, foram solicitados 2 copos por aluno, contabilizando todos os alunos de 5º ano. Contudo, só os alunos que fizeram a prova no dia 23 é que necessitaram dos copos, sendo que o segundo copo era se o primeiro se estragasse. Ou seja, restaram os copos de todos os alunos que fizeram as provas nos dias 24, 25 e 28.

Não deveria ter havido duas provas seguidas porque dificultou a distribuição dos materiais, a leitura e organização da sala e a classificação das provas;

Embora os documentos fossem disponibilizados na extranet no dia anterior, houve  Agrupamentos de Escolas que o secretariado de exames não entregou um exemplar da prova aos professores aplicadores  e um exemplar dos critérios aos professores classificadores, no final do dia anterior à prova. Os professores aplicadores e classificadores deveriam ter tido o acesso à prova, tal como era referido no guião do aplicador, a fim de analisarem o enunciado e verificarem qual era, por exemplo, o objeto requerido na tarefa 2 da prova do 5º ano.  Também os professores classificadores deveriam saber antecipadamente os critérios de classificação de modo a melhorar a observação dos desempenhos dos alunos e o preenchimento das Fichas de Registo da Observação.

Os aplicadores e os classificadores não deveriam ser titulares das turmas que acompanham nas provas.

Existiu uma omissão informativa sobre a participação nas provas dos alunos que frequentam o  Ensino Articulado, aspeto que deveria ser ponderado atempadamente pela tutela.

 

  1. Conclusão

Respeitando as legitimas opções dos autores, embora suscetíveis de apreciação, para a APEVT, excetuando as provas do 1º ciclo e particularizando as provas do 2º ciclo, existe uma discordância conceptual sobre  a sua elaboração. Trata-se de  provas de orientação prescritiva inibidora de uma disposição que leve à criação, não correspondente às práticas quotidianas das escolas e às metodologias que as disciplinas da área perseguem.

Em nosso entender, seria suficiente imagens e um pequeno enunciado, (com dois ou três itens), que levassem os alunos a aumentar o número de elementos da imaginação  e ao mesmo tempo proporcionassem a liberdade total para as mais variadas combinações de signos e imagens visuais. O que poderia permitir também, que os alunos desenvolvessem a capacidade de expressão visual  e ao classificador a capacidade de avaliar as aprendizagens envolvendo a organização, a integração, a relacionação e a avaliação do situação/problema inicial. Conscientes que esta opção teria como desvantagem a objetividade e o tempo para avaliação, não deixamos de salientar que essa subjetividade é intrínseca a esta área educativa, daí a grande dificuldade de elaboração e decisão sobre o tipo de prova mais adequada.

Ainda sobre as provas do  2.º ciclo salientamos que, em nosso entender, os projetos tecnológicos proporcionam ao aluno uma variedade de atividades e experiências com uma diversidade de materiais, técnicas e operadores tecnológicos, que permitam estabelecer relações Ciência-Tecnologia-Sociedade e não, apenas, meras concretizações de produtos de expressão visual. Em educação  tecnológica, a análise do objeto técnico  pressupõe  identificar  o objeto na sua globalidade (designação, forma, função), dos seus componentes, (partes, elementos, materiais), do seu uso, (princípio funcionamento, família do objeto, valores, entre outros).

APEVT  20-06-18

 

[1] O processo criativo está repleto de decisões não racionais, definidas como estratégias que ignoram parte da informação com objetivo de tornar a escolha mais fácil e rápida – encontrar, decidir, inventar ou arte de descobrir ou de resolver problemas.