"HÁ quem seja comum, há quem não tenha assunto, há quem traga mais um, há quem traga um conjunto ..."
Realizaram-se os eventos finais dos projetos desenvolvidos este ano 2022/2023 pela APEVT, em parceria com outras organizações, “Expressões d’Arte & Desenvolvimento – JIC” e “Desafios d’Arte”, faltando ainda realizar a cerimónia final do projeto inteiramente dedicado ao pré-escolar e primeiro ciclo, “Do ponto à Obra d’Arte”. Os resultados quantitativos alcançados até ao momento superam todas as expetativas – 587 escolas envolvidas, 32 757 alunos e 1600 trabalhos submetidos e uma onda gigante de participação nos eventos finais. Qualitativamente podemos fazer alguma análise de conteúdo das próprias obras, das memórias descritivas e dos conteúdos dos diferentes momentos formativos que integraram os projetos.
A Educação Artística (Artes Visuais, Educação Visual e Educação Visual e Tecnológica) foi o foco de todo o trabalho desenvolvido e por isso, o tema central do 8º WEBINAR “Desafio d’Artes na valorização do ensino artístico nas escolas”, para professores, em pleno streaming da Gala Final Desafios d’Arte (pode ver toda a Gala) e com as conferencistas convidadas: Ana Velez (Lisboa, 1982), Carla Cardoso (Setúbal, 1975), Helena Ferreira (Lisboa, 1982) e Luísa Passos (Porto,1979) e a moderadora Carla Pereira.
Em formato de MESA-REDONDA, com Questões e Respostas decorrente da preparação colaborativa da conferência, das quais destacamos algumas:
QUAL A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO ARTÍSTICA NO SEIO DAS ESCOLAS?
A educação artística é de extrema importância para o desenvolvimento integral dos alunos, pois oferece oportunidades para a exploração da criatividade, da imaginação e do pensamento crítico, habilidades que são fundamentais para o sucesso em diversas áreas da vida. A educação artística ajuda no desenvolvimento cognitivo dos alunos pois, estimula as suas habilidades perceptivas, motoras, emocionais e sociais.
QUAL É O IMPACTO DA EDUCAÇÃO ARTÍSTICA NO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DOS ALUNOS?
De entre os principais impactos da educação artística no desenvolvimento cognitivo, podemos destacar:
– Melhoria da criatividade e imaginação: A educação artística estimula a criatividade e a imaginação dos alunos, permitindo que eles explorem diferentes ideias e soluções para problemas.
– Estímulo da capacidade de observação: Através da arte, os alunos aprendem a observar detalhes, formas, cores e texturas, o que contribui para aprimorar a capacidade de observação.
– Desenvolvimento da coordenação motora: A prática de atividades artísticas como desenho, pintura e escultura, por exemplo, ajuda no desenvolvimento da coordenação motora fina, o que é importante para diversas atividades cotidianas.
– Melhoria da capacidade de comunicação: A educação artística ajuda a desenvolver a capacidade de comunicação dos alunos, pois estimula a expressão visual e verbal, permitindo que eles expressem suas ideias e sentimentos de forma mais clara e precisa.
– Estímulo ao pensamento crítico: Através da arte, os alunos são desafiados a pensar de forma crítica e analítica sobre diferentes temas e ideias, o que contribui para o desenvolvimento do pensamento crítico e da capacidade de reflexão.
DE QUE FORMA A EDUCAÇÃO ARTÍSTICA PODE SER INCORPORADA NO CURRÍCULO ESCOLAR?
A educação artística pode integrar o currículo escolar de diversas maneiras, dependendo das necessidades e objetivos de cada escola e da faixa etária dos alunos. Algumas sugestões de como a educação artística pode ser incorporada no currículo escolar são:
– Incluir disciplinas específicas de arte no currículo, como desenho, pintura, escultura, teatro, música e dança. Essas disciplinas podem ser oferecidas em aulas regulares ou em oficinas extracurriculares.
– Introduzir atividades artísticas interdisciplinares, que combinam diferentes disciplinas, como história da arte, literatura, ciências, entre outras. Por exemplo, uma aula de história pode ser complementada com uma atividade de criação de arte inspirada em um período histórico.
– Realizar projetos de arte colaborativos entre diferentes disciplinas ou turmas, que geraram a criação de obras de arte coletivas e estimularam a colaboração e a criatividade dos alunos.
– Utilizando a arte como uma abordagem de ensino e aprendizagem em outras disciplinas, como matemática e ciências, por exemplo. Através de atividades criativas e lúdicas, os alunos podem aprender conceitos importantes de forma mais significativa e envolvente.
– Estimular a proteção e a análise das obras de arte, através de visitas a museus e galerias, debates em sala de aula e leituras sobre artistas e movimentos artísticos. Isso pode ajudar os alunos a desenvolverem uma compreensão mais ampla e crítica sobre a arte e sua relação com a sociedade e a cultura.
PODE A ORGANIZAÇÃO DE PROJETOS, EVENTOS E CONCURSOS, DE ÂMBITO LOCAL E NACIONAL, CONTRIBUIR PARA A VALORIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO ARTÍSTICA NAS ESCOLAS?
– A organização de projetos, eventos e concursos de âmbito local e nacional pode ser uma excelente estratégia para promover a educação artística nas escolas. Essas iniciativas podem incentivar os alunos a desenvolverem suas habilidades artísticas, a experimentarem novas técnicas e linguagens, e se engajarem em atividades criativas e colaborativas. Além disso, uma organização de projetos, eventos e concursos pode ter os seguintes benefícios:
– Estimular a autoestima e a confiança dos alunos, ao permitir que eles mostrem seus talentos e habilidades para uma audiência maior.
– Promova a integração e a troca de experiências entre escolas e alunos de diferentes regiões e culturas, o que pode contribuir para ampliar a visão de mundo e a compreensão da diversidade.
– Fomentar o interesse pela arte e pela cultura em geral, através da divulgação de obras e artistas consagrados, bem como de novos talentos e tendências.
– Valorizar o trabalho dos professores de arte e dos educadores em geral, ao reconhecer e premiar projetos pedagógicos inovadores e de qualidade.
– Contribuir para a formação de um público crítico e consciente em relação à arte e à cultura, capaz de apreciar e interpretar obras de diferentes linguagens e estilos
REALIZAR PROJETOS ARTÍSTICOS COM VISIBILIDADE NA COMUNIDADE DÁ ÊNFASE AOS PRODUTOS, CONTUDO, EM ARTES, AS APRENDIZAGENS DEVEM FOCAR-SE NO PROCESSO ARTÍSTICO. COMO RESOLVER ESTA DICOTOMIA ENTRE PROCESSO E PRODUTO?
A dicotomia entre processo e produto é uma questão importante em educação artística e pode ser resolvida por meio de uma abordagem integrada que valoriza tanto o processo quanto o produto. É possível alcançar um equilíbrio entre a pressão nos resultados e a importância do processo criativo.
Uma maneira de abordar essa questão é reconhecer que o processo criativo é fundamental para a aprendizagem artística. O processo envolve experimentação, descoberta e exploração, e é nesse processo que os alunos desenvolvem a sua habilidade e visão. Ao mesmo tempo, a exposição dos resultados e a visibilidade na comunidade são importantes para promover a confiança e a autoestima dos alunos/artistas, além de permitir que outras pessoas vejam e apreciem seu trabalho.
Uma solução possível é adotar uma abordagem que valorize tanto o processo quanto o produto. Isso pode ser feito por meio de uma avaliação que considera tanto o processo criativo quanto o resultado. Isso significa que o projeto artístico pode ser avaliado com base na qualidade do trabalho produzido e na forma como o processo criativo contribuiu para a realização desse trabalho.
Ao promover uma abordagem integrada que valoriza tanto o processo quanto o produto, os projetos artísticos podem ser mais expressivos. Além disso, essa abordagem pode ajudar a reduzir a dicotomia entre processo e produto e permitir que os artistas se envolvam plenamente no processo criativo enquanto produzem trabalhos de alta qualidade e impacto.
REALIZAR PROJETOS ARTÍSTICOS COM VISIBILIDADE NA COMUNIDADE E COM A PREMIAÇÃO DE ALUNOS DE VÁRIAS ESCOLAS, DÁ ÊNFASE AOS RESULTADOS. COMO RESOLVER ESTA SITUAÇÃO MOTIVACIONAL QUE SE PODE CENTRAR EXCESSIVAMENTE NO PRODUTO?
Para resolver esta situação em projetos artísticos que envolvem a premiação de alunos de várias escolas, é importante encontrar um equilíbrio entre a ênfase no produto e o foco no processo criativo.
Uma maneira de fazer isso é garantir que o processo criativo seja valorizado e incentivado durante todo o projeto. Os alunos devem ter a oportunidade de explorar ideias e experimentar diferentes técnicas, materiais e abordagens durante o processo de criação. O feedback e a orientação dos professores e mentores também podem ajudar a incentivar o processo criativo.
Além disso, é importante reconhecer que a avaliação do produto final não deve ser o único fator a ser considerado na premiação. É necessário levar em conta o processo criativo, a originalidade e a expressividade dos trabalhos, a capacidade dos alunos de explorar e expressar ideias e sentimentos, bem como a habilidade técnica.
Por fim, é importante lembrar que o processo criativo e o produto final não são mutuamente exclusivos. Ao enfatizar o processo criativo, os alunos podem criar obras de arte únicas e originais que reflitam seu próprio estilo e abordagem. Ao mesmo tempo, essas obras de arte podem ser avaliadas com base em sua qualidade, impacto e originalidade, visibilidade à comunidade e incentivando outros alunos a se envolverem em projetos artísticos.
Existem alternativas à premiação dos alunos como forma de motivá-los em projetos artísticos entre escolas com visibilidade na comunidade. A motivação pode ser alcançada através de diferentes formas, tais como:
– Reconhecimento público: além de uma premiação formal, é possível reconhecer publicamente os alunos e suas obras de arte, exibindo as criações em uma exposição ou publicação, ou através de divulgação na mídia ou em redes sociais.
– Feedback construtivo: os alunos podem receber feedback construtivo de professores e mentores que auxiliam no projeto artístico, permitindo que eles possam aprender e crescer em suas habilidades.
– Colaboração e trabalho em equipe: o trabalho em equipe pode ser valorizado e incentivado durante o projeto, permitindo que os alunos trabalhem juntos para criar algo especial e significativo. Isso pode ajudar a motivar os alunos a se dedicarem e a aprenderem uns com os outros.
– Reconhecimento interno da escola: a escola pode realizar uma cerimônia interna de reconhecimento dos alunos participantes do projeto, destacando suas habilidades e trabalho árduo.
– Incentivos alternativos: a escola pode criar incentivos alternativos, como visitas a museus ou oficinas de arte, para motivar os alunos a se envolverem em projetos artísticos.
O TRABALHO DE PROJETO COM IMPLICAÇÕES NA COMUNIDADE E NO PATRIMÓNIO LOCAL E GLOBAL É UMA DAS ABORDAGENS DA EDUCAÇÃO VISUAL QUE MELHOR PROPORCIONA O CONHECIMENTO DA LINGUAGEM VISUAL?
O trabalho de projeto com motivação na comunidade e no patrimônio local e global pode ser uma das abordagens mais eficazes na educação visual para fornecer o conhecimento da linguagem visual. Isso ocorre porque, o trabalho de projeto envolve uma abordagem prática e intencional que permite aos alunos explorarem e aplicarem conceitos visuais em contextos do mundo real.
Ao projetar e criar trabalhos visuais que abordam questões da comunidade e do patrimônio, os alunos são incentivados a pensar criticamente sobre o mundo ao seu redor e desenvolvem habilidades de pesquisa, planeamento e solução de problemas. Além disso, esse tipo de abordagem também pode ajudar a incentivar a participação cívica e a compreensão das questões sociais e culturais.
Assim, o trabalho de projeto com coordenação na comunidade e no património local e global pode ser uma das abordagens mais eficazes na educação visual para fornecer o conhecimento da linguagem visual.
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1.Ana Velez – Artista plástica. Colabora com a Cisterna Galeria (Lisboa) e a Wadström Tönnheim Gallery, (Marbella, Espanha e Malmo, Suécia). Vive entre Lisboa e Madrid. Licenciada e Mestre em Pintura pela Universidade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Co-fundou em 2015 o Atelier Contencioso . Está representada em várias colecções privadas e públicas.
2. Carla Cardoso – Licenciada em Ensino de Educação Visual e Tecnológica (1999) e Mestre em Ensino de Educação Visual e Tecnológica (2010) pela Escola Superior de Educação de Setúbal. Atualmente, é professora do 2ºciclo no Agrupamento de Escolas Ordem de Santiago, sendo também formadora de professores na área da Educação Artística e Tecnológica.
3. Helena Ferreira – Artista Plástica, investigadora e docente no Ensino Secundário e no Ensino Superior. É licenciada em Escultura e doutorada em Arte e Multimédia pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, tendo sido bolseira da Fundação para a Ciência e Tecnologia.
4. Luísa Passos – Bacharel em Escultura e Licenciada em Artes Plásticas pela ESAD das Caldas da Rainha, especializou-se em ilustração científica e desenho de campo pelo Museu Nacional de História Natural e da Ciência. Colabora na divulgação e promoção do projecto ‘Germinar um Banco de Sementes’. É membro do ‘Grupo do Risco’ desde 2015.
Moderadora: Carla Pereira – Licenciada em Ensino de Educação Visual e Tecnológica, Mestre em Educação Artística e Doutorada em Educação, na especialidade Formação de Professores, tema Educação Artística. Atualmente, é professora do 2ºciclo no Agrupamento de Escolas de Carnaxide sendo também formadora de professores na área da Educação Artística e Tecnológica.
APEVT (CG)